sábado, 30 de outubro de 2010

Amores Interrompidos



O sol já tocava o horizonte litorâneo e tudo que Julia fazia era pensar. Mais um dia havia se passado e ela não o vira. Já fazia semanas que ele havia partido e algo lhe dizia que era para nunca mais voltar. Ela sentia falta dos braços que a consolava nos momentos de angústia, dos largos ombros que eram seu porto seguro, dos olhos azuis que fazia seu coração bater freneticamente. O que ela seria sem ele? O que ela havia feito para que ele partisse? Tais perguntas assombravam seus pensamentos e seus olhos não controlavam mais as lagrimas.
Assim o céu lentamente era tingido em degrade e aos poucos as estrelas começavam a brilhar. Ah, as estrelas que por tanto tempo foram as testemunhas, as confidentes de tal intenso amor, primeiro e único amor. Ela ainda lembrava da primeira vez que ela o vira, era como se fosse ontem e lá estava ele com seu casaco antiquado, tão azul que combinava com seus olhos. Ela ainda se lembra de qual foi a sensação da qual foi tomada a partir do momento que ela colocara os olhos nele, e apenas uma certeza lhe surgira: ele seria dela. Julia ainda lembrava do primeiro encontro, de como ele pegou em suas mãos e dissera palavras tão doces que jamais ela havia ouvido. Era como se juntos formassem um quebra-cabeça, em que um completava o outro e se uma única peça faltasse tudo seria inútil.
O vento soprava forte contra o rosto de Júlia, passara do crepúsculo e a noite ia se tornando sombria, assim como a solidão que lhe atingia. O que lhe deixava mais revoltada era se sentir tão só quando seu casamento era para ser no próximo mês. Tudo estava pronto, seria o casamento da qual ela sempre havia sonhado. O vestido era perfeito, a recepção elaborada, tudo estava de acordo com o que ela sempre quis. Porém, justo agora, o destino tinha feito seu noivo partir e nunca mais ele iria voltar. Ela não entendia como a vida podia ser tão injusta. Ela estava farta de tanta dor e sofrimento.
Não entendia como um amor pôde ser destruído por mero capricho da sociedade e do capitalismo redundante. Quantas vidas já havia se perdido? Aquela guerra passava de meses. O ano de 1945 era para ser o mais feliz da vida de Júlia, porém tal guerra se arrastava e mais pessoas eram mortas e outras eram feridas para sempre.
Julia estava em seu limite, não suportava que ninguém a tocasse. Ela seria somente dele e de mais ninguém. A maré era alta e a água fria já tocava seus pés. Ela queria avançar mais e mais rumo ao nada, deixar que fosse levada pelas ondas do mar, assim com sua felicidade fora tomada pelas ondas da vida. Mais um passo, a água era tão gelada que a fazia tremer ao tocar em seus joelhos. A lua estava alta, era linda, era cheia, Julia lembrava se de quando era criança e olhava a lua e tinha esperanças e sonhos. Tão absorta em seus pensamentos suicidas, ela mal percebeu que um jovem soldado gritava seu nome.
- Srta. Foster, Srta. Foster! Trago noticias à senhora.
Julia não queria ouvir o que já sabia. Era a certeza de que tudo havia acabado. Ele estava morto.
- Tenho informações a respeito do Dr. Anthony Taylor. È seu noivo não é?
Ao ouvir o nome dele, seus joelhos cederam. Como era difícil tudo isso, porque demorava em acabar-se?
- Sim, é meu noivo – soluçava ela. – O que aconteceu?
- A melhor das coisas cara moça! A guerra finalmente acabou. A paz voltou a reinar! – O jovem soldado transpirava alegria. Mas Julia ainda estava perturbada, o que haveria acontecido com seu amor?
- Mas e meu Anthony? Ele se foi não é? A guerra o levou também?
- Acalme-se srta. Julia! Tudo não se passou de uma má informação. O corpo encontrado no hospital bombardeado não era de seu noivo Era de um outro médico. Dr. Anthony Taylor está vivo!!! Estará embarcando no próximo vôo de volta para casa.
Julia mortificou-se com o que acabara de ouvir. Seria algo onírico? Ele estava vivo toda sua dor seria finalmente cessada. Ela ficara abismada com sua falta de controle. Havia provado da loucura que o amor pode causar. Porém, ela concluíra que o amor supera tudo, independente do quão impossível é a situação. Ela recebera uma chance para ser feliz, e por sua fé ela venceu sobre aquilo que lhe parecera impossível. O destino é um jogo, ele nos prega peças constantemente. É preciso ser forte o bastante para acreditar, ver um sentido em tudo. O amor é a única guerra da qual realmente valha a pena lutar e sem ele nenhuma sociedade teria como reconstruir-se.   

2 comentários:

  1. Nem preciso mencionar que está perfeito, né? Sempre há essa perfeição quando a autora em questão é a Mari! Sou cada vez mais seu fã!

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  2. Agradeço de verdade! Porque meus amigos são meus motivadores! ♥

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